O Cigarro e as Telas

O cigarro nas telas
Bastam poucos minutos. Assista um filme, qualquer filme. TV ou cinema.
Assista uma novela, qualquer uma. Está tudo lá. Escancarado.
Exalando fumaça para todos os lados.
O galã ou o bandido. A atriz ou a vilã. O bom ou o mau. Ela ou Ele.
Isso não importa muito. Isto não importa nada.
Para toda e qualquer situação estarão fumando.
Que invenção o cigarro!
No cinema, no teatro, na TV para qualquer encenação, o cigarro foi/é a carta na manga. É a bola da vez… É o “pau pra toda obra”!
Fumam antes e depois de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.
Por vezes o motivo é coisa nenhuma. Cabeça vazia, se enche de fumaça.
Neste quesito, a direção e a interpretação são impecáveis.
A Mãe fuma o Pai também. Fuma Professor. Fuma o Doutor. Fuma a Senhora e fuma o Senhor!
Fumam o bandido e o mocinho. Fumam o herói, o covarde, o ladrão, o inocente, o presidiário, o deputado, o juiz e o delegado. Fuma também o flanelinha, o vereador, o feirante, o banqueiro, o bancário, o assaltante, o atleta, enfim, fumam todos os patetas…
O empregado e o patrão fumam. Tanto faz a profissão ou parentesco.
É fumando que eles se entendem.
Direção, roteirista e atuação são criativas (?), é isso mesmo, tem que fumar até morrer ou porque está morrendo. Ou mesmo porque nem sabe que está fumando.
Estão sempre fumando, muito. Só não fumam quando estão dormindo.
Dormindo em sonho ou em pesadelo, eles fumam.
Nervoso, ansioso, raivoso, irado, calmo, tranquilo ou arrasado, eles fumam.
Ah, os estressados fumam muito. Aqui as tragadas são irrepreensíveis.
Se não fosse o cigarro, o que faria a direção e o intérprete para caracterizar um momento de tristeza, dor, alegria, indecisão, pesar, de plena calma, tensão, ou apenas nada? Falta “inspiração”… aí eles fumam.
Somente um cigarro consegue. Só mesmo um cigarro para resolver qualquer problema, ou nenhum.
Velório, nascimento, aniversário, casamento, encontro ou despedida, na entrada ou na saída, o que não falta é motivo para fumar.
Observe. Independente da situação a fisionomia é a mesma. Aquela expressão indescritível vazando fumaça pela boca e narinas, é sofrível. E aí a cena se resolve em fumaça.
A “criatividade” faz com que seja impossível uma cena, qualquer cena sem cigarro. Algumas vezes pode levar ao “Oscar” e a outras ao Câncer.
O personagem fuma quando está bebendo e quando não está. Após uma refeição ele fuma. Fuma porque está com fome. Fuma porque está atrasado ou porque não está. Será que sabe porque está fumando?
Segurando um bastão cancerígeno entre os dedos, que cena:
– ao acender, tragar, baforar olhando a fumaça até apagar o cigarro depende de muita técnica, orientação criativa e interpretativa. É uma aula de encenação, depende de muito estudo… e de estado deplorável.
Reza a lenda que diretores e atores são, na realidade, agentes secretos da indústria do fumo.
A invenção do cigarro, foi um ajutório e tanto. Caso contrário não teríamos cinema, teatro, novelas e, diariamente, tantas doenças e montanhas de mortes.
e.t. anos atrás foi assunto muito discutido na mídia que fumar em cena, torna a representação mais real. Por isso é indispensável, é necessário fumar verdadeiramente. A discussão teve fim quando, para a cena de suicídio, o ator negou-se a usar um revólver com balas reais.
Roni Quevedo – Médico

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