São de conhecimento comum os danos causados pelo fumante a si mesmo e aos demais. Nos últimos tempos, para além das toxinas tragadas e das existentes na nuvem de fumaça formada, discutem-se os riscos envolvidos na contaminação por substâncias provenientes do cigarro, mesmo após este ser apagado e a fumaça dispersa pela ventilação. Tais químicos depositam-se em superfícies como roupas, móveis, carpetes e veículos, e permanecem muitos meses após a exposição, sem qualquer indício visível.
Trata-se do fumo de terceira via. Os resíduos, em contato com agentes oxidantes do ar atmosférico, podem, ainda, reagir de forma a produzir poluentes secundários – substâncias novas, diferentes das originais, com potencial patológico de extensão ainda debatida.
A fumaça de terceira mão é excepcionalmente perigosa para crianças, pois, além do hábito de colocar em contato com a boca todo tipo de objeto, sua frequência respiratória é mais elevada e respiram perto do chão, bem como possuem o sistema imunológico em desenvolvimento.
O próprio fumante pode ser veículo dos poluentes, adsorvidos em roupas, na pele e no cabelo, e posteriormente transferidos para outros ambientes. Em unidades neonatais de tratamento intensivo que contam com profissionais tabagistas, já foram encontrados níveis significativos de nicotina na superfície de móveis. Não fosse o bastante, os recém-nascidos expostos a esse meio apresentaram metabólitos da substância na urina.
Talvez em razão da impossibilidade de visualização, o fumo de terceira via é um mal pouquíssimo conhecido, e os estudos acerca dos riscos da longa exposição a suas toxinas, incipientes.
No município, quase um quarto da população é tabagista: o dobro da média nacional. O professor da Universidade Católica de Pelotas, Dr. Roni Quevedo, desponta como grande expoente da luta contra o tabagismo. A partir da criação do projeto “Fumo Zero”, o qual conta com apoio de diversas empresas e entidades da região – e obteve reconhecimento do Conselho Federal de Medicina em 2012 -, ocorreu a proibição do uso de produtos fumígenos na universidade, recentemente ampliada pela portaria n.º 100/23, da reitoria. Em 2009, conseguiu-se, na câmara, a aprovação da Lei Municipal Antifumo (lei n.º 5636/09).
Sabe-se que não existe nível seguro de exposição à fumaça do cigarro. O fumante pode procurar ajuda nas unidades básicas de saúde da cidade. A Universidade Católica de Pelotas, no âmbito do Projeto UCPel mais Saudável, oferece, igualmente, auxílio e orientação.
Autor: Vinícius Bierhals
Acadêmico de Medicina
viniciusbierhals@gmail.com