{"id":664,"date":"2021-05-18T15:00:52","date_gmt":"2021-05-18T18:00:52","guid":{"rendered":"http:\/\/homologacao.tiquality.com.br\/amedpel\/your-medical-records-are-safe-now-a-days-copy\/"},"modified":"2021-06-09T11:50:18","modified_gmt":"2021-06-09T14:50:18","slug":"manicomios-da-mente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/ampdigital.org\/manicomios-da-mente\/","title":{"rendered":"Manic\u00f4mios da mente!"},"content":{"rendered":"

18 de maio \u2013 Dia Nacional da Luta Antimanicomial<\/strong><\/p>\n

Isolamentos, exclus\u00f5es, manique\u00edsmos, dissocia\u00e7\u00f5es, aprisionamentos, repress\u00f5es, abandonos, castigos, torturas e assassinatos (\u2026) s\u00e3o cria\u00e7\u00f5es mentais utilizadas contra o que n\u00e3o controlamos, aceitamos, entendemos e conhecemos em n\u00f3s e nos outros; as estruturas f\u00edsicas, instrumentos, leis e teoriza\u00e7\u00f5es que viabilizam suas utiliza\u00e7\u00f5es s\u00f3 surgem depois.
\nFrequentemente, avalia-se de maneira superficial, ou parcial, as solu\u00e7\u00f5es engendradas para resolver os problemas dos pr\u00f3ximos; n\u00e3o raro, o real objetivo \u00e9 livrar-se dos desconfortos pessoais, sociais, econ\u00f4micos e culturais que eles acarretam.<\/p>\n

H\u00e1 s\u00e9culos, manic\u00f4mios s\u00e3o denomina\u00e7\u00f5es dos lugares para o tratamento de pessoas que padecem com sintomas associados \u00e0 doen\u00e7a mental. Como estruturas f\u00edsicas, eles surgiram na idade m\u00e9dia, no seio da cultura \u00e1rabe; com eles chegaram \u00e0 Europa e, a partir do s\u00e9culo XV, rapidamente proliferaram. No s\u00e9culo XVIII, Philippe Pinel, um dos pais da psiquiatria moderna, ordenou que se retirassem os grilh\u00f5es que prendiam os pacientes nos manic\u00f4mios; tratados como criminosos, em condi\u00e7\u00f5es abaixo das dispensadas aos animais de zool\u00f3gicos.<\/p>\n

Em v\u00e1rios lugares e momentos, os manic\u00f4mios f\u00edsicos tamb\u00e9m se transformaram no destino de minorias e de quem se discordava das convic\u00e7\u00f5es pol\u00edticas e religiosas, das orienta\u00e7\u00f5es sexuais e dos costumes culturais do status quo. Evidentemente, eles fracassaram na tarefa de tratar quem padecia com as dores emocionais. Manic\u00f4mios f\u00edsicos s\u00e3o express\u00f5es das primitivas solu\u00e7\u00f5es das nossas mentes ao estranho, diferente ou n\u00e3o compreendido.<\/p>\n

No Brasil, 18 de maio, \u00e9 a data escolhida para lembrar a Luta Antimanicomial \u2013 movimento surgido nos anos 70, que visava combater tratamentos baseados no isolamento e demais pr\u00e1ticas que desconsideravam a subjetividade e a liberdade; muitos manic\u00f4mios brasileiros n\u00e3o eram diferentes dos descritos por Pinel. O desmanche dessas estruturas, por si s\u00f3, j\u00e1 foi um avan\u00e7o; contudo, estamos longe de ter encontrado solu\u00e7\u00f5es efetivas.
\nEntretanto, o fim dos manic\u00f4mios f\u00edsicos n\u00e3o elimina os mentais, estes sempre est\u00e3o \u00e0 espreita; simples amea\u00e7as estimulam muta\u00e7\u00f5es na forma, mas n\u00e3o na ess\u00eancia. Por exemplo, mesmo nos argumentos sobre os horrores dos manic\u00f4mios, encontramos posi\u00e7\u00f5es que negam a exist\u00eancia da doen\u00e7a mental e, consequentemente, a necessidade de certos tratamentos; isto quando n\u00e3o se ataca profissionais que seguem trabalhando de forma intelectualmente honesta e competente em estruturas hospitalares que d\u00e3o suporte a todos os usu\u00e1rios das novas redes de atendimentos. Ou seja, mais preconceito e sofrimento.<\/p>\n

Manic\u00f4mios nunca mais! Sim! Mas n\u00e3o estariam eles renascendo na multiplica\u00e7\u00e3o das comunidades terap\u00eauticas? Muitas vicejam na escassez de alternativas e na falta de compromisso com qualquer embasamento cient\u00edfico. N\u00e3o seriam as cracol\u00e2ndias os novos manic\u00f4mios a c\u00e9u aberto? Quantos est\u00e3o em pres\u00eddios ou perambulando pelas ruas ao inv\u00e9s de estarem em tratamento?<\/p>\n

Nas \u00faltimas semanas, tivemos dois exemplos emblem\u00e1ticos: a morte de um jovem capturado para ser levado \u00e0 uma comunidade terap\u00eautica contra sua vontade e o assassinato a golpes de fac\u00e3o de tr\u00eas crian\u00e7as e duas professoras por um jovem com evidentes problemas psiqui\u00e1tricos. O passado n\u00e3o \u00e9 solu\u00e7\u00e3o; tampouco, o presente oferece amplas e efetivas abordagens.
\nN\u00e3o teremos sa\u00fade mental \u2013 nem enfrentaremos pandemias \u2013 se n\u00e3o conseguirmos lidar com as complexidades, os paradoxos, as contradi\u00e7\u00f5es, o n\u00e3o sabido e o primitivismo das solu\u00e7\u00f5es manicomiais de nossas mentes. Para tal fim, \u00e9 essencial que todos os abnegados profissionais envolvidos com os cuidados em sa\u00fade mental se escutem; em especial para entender de onde vem a convic\u00e7\u00e3o da raz\u00e3o dos outros, mesmo quando se est\u00e1 em completo desacordo com elas. O colapso na constru\u00e7\u00e3o de alternativas para o atendimento dos pacientes psiqui\u00e1tricos n\u00e3o \u00e9 de matriz diferente da que os leva a adoecer.<\/p>\n

Hemerson Ari Mendes<\/strong>
\nM\u00e9dico Psiquiatra e Psicanalista<\/strong><\/p>\n

Membro do Departamento de Psiquiatra da Associa\u00e7\u00e3o M\u00e9dica de Pelotas (AMP)<\/strong><\/p>\n

Fonte: AMP<\/strong><\/p>\n

Url: amedpel.com.br<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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